09 Julho 2021
Católicos tradicionalistas no leste da França protestaram contra o arcebispo Roland Minnerath, de Dijon, por expulsar uma congregação religiosa clerical que celebra exclusivamente no rito pré-Vaticano II, também chamado de tridentino.
A reportagem é de Céline Hoyeau, Malo Tresca e Loup Besmond de Senneville, publicada em La Croix International, 08-07-2021. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Vários apoiadores da Fraternidade Sacerdotal de São Pedro (FSSP) se reuniram em frente ao escritório do arcebispo no dia 26 de junho, segurando cartazes pedindo “diálogo” e “respeito pela diversidade ritual”.
O arcebispo Minnerath anunciou no dia 17 de maio que não permitiria mais que dois sacerdotes da FSSP continuassem residindo e celebrando a missa no rito antigo – que Bento XVI rebatizou de “forma extraordinária” – na Basílica de Saint-Bernard de Fontaine-lès-Dijon.
O arcebispo, que completará 75 anos em novembro, disse à FSSP que seus membros terão que deixar as instalações em setembro.
A decisão causou grande comoção entre os apoiadores da FSSP.
A fraternidade sacerdotal tradicionalista está em Dijon há 23 anos – cerca de cinco anos antes de Minnerath se tornar arcebispo em 2004.
Um comunicado de imprensa postado no dia 18 de junho no site da FSSP reclamava da falta de “consulta prévia” e do “motivo alegado” para a expulsão da fraternidade.
O escritório do arcebispo remeteu ao La Croix uma lista de queixas contra a fraternidade no dia 17 de junho.
A mais notável é a recusa dos padres da FSSP nos últimos cinco anos a celebrarem a missa pós-Vaticano II (a “forma ordinária”) mesmo “de vez em quando”. Ela disse que isso era contrário ao que havia sido “acordado” quando a FSSP chegou a Dijon em 1998.
“Tal atitude é indicativa de uma concepção do seu ministério que nós não compartilhamos”, disse a arquidiocese.
“O rito antigo não deve criar uma comunidade paralela”, disse.
Isso está de acordo com o sentido da comunhão que o Papa Bento XVI deixou claro em sua carta que acompanhou o motu proprio Summorum Pontificum em 2007.
“Obviamente, para viver a plena comunhão, também os sacerdotes das comunidades aderentes ao uso antigo não podem, em linha de princípio, excluir a celebração segundo os novos livros”, escreveu ele.
“De fato, não seria coerente com o reconhecimento do valor e da santidade do novo rito a sua exclusão total”, ressaltou Bento XVI.
O arcebispo Minnerath foi conversar com os manifestantes no dia 26 de junho.
“Eu fiz uma proposta final à FSSP, mas ainda não sei a resposta deles: ou eles concordam em concelebrar de vez em quando e ficam, seja eles ou outros padres, ou vão embora”, disse.
Ele acrescentou que o Papa Francisco planejava emitir um novo motu proprio que deverá “esclarecer as coisas” sobre esse assunto.
A polêmica em torno da celebração exclusiva da missa pré-Vaticano II é uma questão espinhosa em outras dioceses da França, além de Dijon.
Na realidade, o papa está prestes a publicar uma nota sobre a aplicação correta do Summorum Pontificum.
O La Croix soube que, em breve, haverá uma revisão do modo como o motu proprio tem sido seguido, agora que se completam 14 anos desde que Bento XVI o publicou em 7 de julho de 2007.
Sabe-se que Francisco deseja fortalecer a autoridade dos bispos nesse assunto.
Atualmente, qualquer grupo de leigos que deseje celebrar uma missa no rito antigo pode encaminhar o assunto para Roma, caso o pároco e o bispo se recusarem.
É por isso que se espera que o papa suprima a seção Ecclesia Dei da Congregação para a Doutrina da Fé, que há muito tempo é responsável por supervisionar as relações com as comunidades tradicionalistas.
Francisco já reduziu o status da Ecclesia Dei em 2019, quando transformou-a de comissão para um simples escritório dentro da Congregação.
Se a Ecclesia Dei for suprimida, as várias comunidades tradicionalistas ficarão dependentes de outros dicastérios vaticanos, como a Congregação para o Clero e a Congregação para a Vida Consagrada.
Essa seria uma forma de normalizar e regulamentar ainda mais as comunidades vinculadas à missa pré-Vaticano II.
Mas também significaria que elas não terão mais o lugar especial que conquistaram em 2007 com a publicação do motu proprio.
Está previsto um encontro para o fim desta semana em Dijon entre o arcebispo Minnerath e os padres da Fraternidade de São Pedro.
Mas o superior local da FSSP, Pe. Roch Perrel, disse ao La Croix que era impossível para ele concelebrar no novo rito.
“Eu escolhi um rito tradicional e pretendo ser fiel a ele. É uma escolha de vida”, disse ele.
“Um em cada dois padres da Fraternidade de São Pedro segue essa mesma linha na França”, disse uma pessoa que conhece o assunto.
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Novas tensões surgem na França em torno do rito tridentino - Instituto Humanitas Unisinos - IHU